2.9.05

Do lar

Abriu a geladeira e dela retirou o leite, o requeijão e a manteiga. Os outros alimentos, não perecíveis, já estavam preparados para o café: uns numa bandeja, outros na própria mesa. A família enfim se reunia e, apressada, tomava café. O pai lia as notícias em voz alta e as crianças disputavam, tom a tom, sua atenção. O som era alto e familiar. Em cerca de 30 minutos o silêncio reinaria novamente. Mas aquele dia seria diferente. A família recebeu um aviso para deixar acasa. Ela seria inundada. Mal dava tempo de retirar os pertences. Centenas de objetos que ela possuía que acabavam por possuí-la. Os móveis esperavam por seu toque, assim como a própria família, todos os dias. Cada perna de cada mesa corria atrás dela, as quatro bocas do fogão gritavam por panelas e os braços das cadeiras agarravam sua saia. Naquele dia, ela fugiu da família e voltou para seu lar. Sentou-se na mesa de jantar. A água, numa força violenta estourou as janelas. Empurrava seu corpo, que se mantinha firme na cadeira. A mesa, os porta-retratos e os quadros começaram a flutuar. Assim como ela. E como num baile, uma dança que se repetiria por toda a vida, sua casa seria seu par. Era a dona da casa. E sabia que aquele era o seu lugar.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Muito bom, Luiza.
Delicatessen.

Btw, almirantes afundam com seus navios porque são do mar ou do lar?
abraço

2:28 PM  
Blogger Luiza Voll said...

Talvez porque o lar do almirante seja o navio. Será?
Beijo!

4:06 PM  
Blogger Fábio said...

Luiza, que bonito.
Mais que a dona da casa, era a capitã do navio da vida dela.

5:04 PM  
Blogger superid said...

nao duvido de muita gente ter feito essa opcao em nova orleans.

6:45 AM  
Anonymous Anônimo said...

Vc é simplesmente um exemplo.

8:45 AM  

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