28.9.05

Tempo

O que acontece com o tempo depois que ele passa?
Ele vira do avesso?
Vira do fim um começo?

Se você olhar para trás, vê o tempo fugir?
Só nos resta chorar ou sorrir?

O tempo está no retrato?
No bilhete guardado?
No bolso do namorado?

O tempo passado é compartilhado?
Você tem na sua memória o meu rosto colado?

E o tempo somado?
Seria o tempo retratado?

As memórias teriam sequência?
As lembranças a mesma cadência?

E aqueles tantos outros momentos que se passaram quando você não estava atento?
Será que alguns deles eu me lembro?
Será que se perderam no vento?

O vento que soprou e nada moveu.

Tudo o que fica sente a presença do vento.
Para o que tem valor se tem tempo.

Queria ver um filme do seu tempo.
Queria ser vento.

25.9.05

Cidade cinza

São Paulo7

São Paulo13

São Paulo1

São Paulo15

São Paulo12

São Paulo11

São Paulo14

8.9.05

sombra

6.9.05

Primeiro encontro

Toda mulher merece câmera lenta e vento nos cabelos.
Anatomia

São feitos de ossos, sangue, pele, pêlos.
Marcas, poros, pintas, cabelo.
Por dentro calor, sonho, desejos.
Por fora insegurança, ansiedade e medo.

Um corpo só entende o outro quando está do lado de dentro.

3.9.05

gato

2.9.05

Do lar

Abriu a geladeira e dela retirou o leite, o requeijão e a manteiga. Os outros alimentos, não perecíveis, já estavam preparados para o café: uns numa bandeja, outros na própria mesa. A família enfim se reunia e, apressada, tomava café. O pai lia as notícias em voz alta e as crianças disputavam, tom a tom, sua atenção. O som era alto e familiar. Em cerca de 30 minutos o silêncio reinaria novamente. Mas aquele dia seria diferente. A família recebeu um aviso para deixar acasa. Ela seria inundada. Mal dava tempo de retirar os pertences. Centenas de objetos que ela possuía que acabavam por possuí-la. Os móveis esperavam por seu toque, assim como a própria família, todos os dias. Cada perna de cada mesa corria atrás dela, as quatro bocas do fogão gritavam por panelas e os braços das cadeiras agarravam sua saia. Naquele dia, ela fugiu da família e voltou para seu lar. Sentou-se na mesa de jantar. A água, numa força violenta estourou as janelas. Empurrava seu corpo, que se mantinha firme na cadeira. A mesa, os porta-retratos e os quadros começaram a flutuar. Assim como ela. E como num baile, uma dança que se repetiria por toda a vida, sua casa seria seu par. Era a dona da casa. E sabia que aquele era o seu lugar.

1.9.05

saci2

saci1